De Alenquer ao Baleal pela serra (1ª Parte)
(Paula Oliveira Silva e Pedro Oliveira, 2006-05-24)
A serra de Montejunto, o Cadaval e o Bombarral não são as referências mais óbvias do Oeste. Nos por cá não quisemos que tal situação se mantivesse por muito mais tempo apesar de Óbidos ser mesmo incontornável. De terra em terra, quantas são as descobertas que estão à margem das estradas mais apressadas...
No tempo dos Descobrimentos...
Não fosse a História de Alenquer tão tamanha e teríamos passado à sua margem, tal como fazem os carros apressados da A1 com destino ao Porto ou a Lisboa.
Com a aventura de Quinhentos, muitos foram os alenquerenses que ajudaram a construir a nossa História. É o caso de Afonso de Albuquerque, vice-rei da Índia, que aqui viveu e ainda do cronista do reino Damião de Góis, que em Alenquer nasceu veio a desaparecer.
No século XIX, Alenquer destacou-se como centro industrial dispondo de algumas fábricas de fiação hoje ruínas que podem ser avistadas junto ao rio com o mesmo nome da vila.
Mas esta localidade, que cresceu em anfiteatro, é também chamada de vila presépio. É na parte alta da encosta que se concentra o centro histórico. As ruínas do castelo medieval atestam a importância desta antiga Praça Moura. Hoje restam apenas vestígios da Porta da Conceição e da Torre da Couraça.
Nesta localidade, dois museus merecem referência. O Museu Municipal Hipólito Cabaço, de vocação arqueológica e etnográfica, e a Galeria Museu João Mário, um espaço de arte figurativa naturalista.
A Igreja de São Francisco, situada no local onde existia o antigo Paço Real, parece comandar a vila. Hoje o antigo convento funciona como lar de idosos. Não deixe de conhecer o claustro.
... rumo ao século XXI
Devido à proximidade, não quisemos deixar de parte a famosa e pacata aldeia (...) da Ota. (...) Para tal, ao fim da longa descida da EN1, terá que virar à esquerda para poder entrar na aldeia.
Aqui sobressai a Igreja do Divino Espírito Santo, um templo modesto que, todavia, reúne um rico conjunto de azulejaria tipo tapete do século XVII. A pia de água benta, de traça manuelina é o testemunho de um templo outrora ali existente.
(...)
Mais à frente, deixe a EN1 e vire à esquerda, em direcção a Abrigada. Segue-se Paúla, Atalaia e Vila Verde dos Francos, povoações de passagem, que nos indicam o caminho até à serra de Montejunto, o ponto mais elevado da região Oeste. Aproximamo-nos da serra por uma estrada florestal, ideal para os moinhos de vento nas cumeadas.
Segredos da serra
Seguindo as placas até ao Quartel da Força Aérea chegamos também à Real Fábrica do Gelo (antecedida por um arranjado parque de merendas), composta por uma área de produção do gelo e outra para seu armazenamento e conservação.
Junto à fábrica, existe um forno de cal do século XVIII, que fez cal para as casas de Pragança até meados do século XX.
Perto da recepção do parque de campismo fica a sede do Centro Interpretativo de Montejunto. Aqui encontra informação sobre a fauna e flora desta serra e conselhos quanto a percursos pedestres.
Está na altura de subir ao cume da serra de onde se avista a norte o mar e a sul as lezírias do Tejo. Pode acontecer que as admiráveis vistas tenham de ser adiadas, tudo depende do tempo.
Nesse caso entretém-se com a visita às ruínas de um antigo mosteiro, junto das antenas gigantes, precavendo-se para os eternos ventos que aí residem. Um pouco a baixo situa-se o Santuário de Nossa Senhora das Neves, anualmente sede de romaria.
Pouca parra, muita uva
Descendo a serra, via Pragança, deve tomar-se a direcção do Cadaval, conhecido pelo cultivo da vinha e da produção de pêra rocha. Destaca-se a Igreja Matriz, na zona mais antiga da vila e o Museu Regional, uma agradável surpresa, pela sua organização e apresentação. A entrada é gratuita.
Aproveite para passar pela Adega Cooperativa, junto à qual, se situa o Moinho das Castanholas, ao estilo “americano”. De armação metálica, torre e velas em ferro era muito comum neste concelho que chegou a ter 36 destes em funcionamento. Este engenho foi construído nos anos 50 e terminou a actividade há pouco mais que uma década.
O vizinho Bombarral é de igual forma, uma região agrícola fértil, esta última herdeira dos monges de Alcobaça. No coração da vila, o palácio da família Cunha e Coimbra é o espaço municipal que a câmara dotou à cultura, funcionando aí o Museu Municipal.
Logo à entrada, um políptico em estanho (1961) com cenas da vida agrícola foi uma atracção do II festival do vinho português e enche os olhos. O espaço etnográfico com as antigas profissões como o sapateiro ou barbeiro não deixa esquecer os ofícios de outras alturas.
Na Delgada, um museu popular em miniatura retrata os espaços e edifícios mais marcantes da aldeia, alguns deles já inexistentes. Este espaço feito por um pai, constituído em memória de uma filha, é composto por inúmeros trabalhos manuais, onde se incluem garrafas cheias ou vazias, as imagens de todos os Presidentes da República, símbolos de clubes de futebol, e o que mais imaginar consiga. A saudade e o amor são aqui difíceis de ignorar.
De Alenquer ao Baleal pela serra (2ª Parte)
(Paula Oliveira Silva e Pedro Oliveira, 2006-05-24)
Águas tranquilas
Dirija-se agora para a Lagoa de Óbidos pela estrada de acesso à margem sul da lagoa via Vau. Junto ao Covão de Musarenhos, deixe o asfalto e siga pelo estradão que acompanha a margem da lagoa indo até à Ponta do Seixo.
Aqui ainda encontra as cabanas de pescadores feitas de canas à frente das quais poderá encontrar as velhas bateiras da lagoa. Memórias de um tempo cada vez mais esquecido.
Regresse à estrada alcatroada, pelo mesmo caminho, virando à direita em direcção a Bom Sucesso. Aqui as águas doces da lagoa encontram-se com as do mar. A Foz do Arelho está mesmo em frente. É com esta bela imagem que terminamos este primeiro dia de passeio.
Dote de rainhas
Mantendo uma aparência medieval que lhe concede um semblante misterioso, o casario de Óbidos é dominado pelo castelo. A história de Pedro e Inês teve aqui vários episódios.
Com a oferta de Óbidos como prenda de casamento de D. Dinis à sua esposa, Santa Isabel, a povoação ficou pertença da Casa das Rainhas extinta em 1834. As rainhas que por aqui passaram foram deixando grandes benefícios. É o caso de D. Leonor que fundou a segunda Misericórdia do reino e D. Catarina de Áustria que mandou construir o aqueduto.
Não faltam histórias e lendas a cada esquina de Óbidos. A principal porta de acesso à vila, construída cerca de 1380 alberga o oratório da Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Óbidos.
Passeie pelas muralhas mas fique, desde logo a saber que são cerca de dois quilómetros que terá de percorrer. Há que ter cuidado em certas zonas pois há certos sítios que a muralha não tem protecção. Esta funciona como uma espécie de miradouro de onde se vê um mar de telhados salpicados por torres e praças.
Ao início da Rua Direita, a mais comercial, está o padrão camoniano que celebra a referência de Óbidos na obra de Camões. Continuando pela dita rua, espreite no interior das lojas de artesanato. Por entre os moinhos em miniatura e as telhas pintadas com ruas de Óbidos, sobressaem alguns bares onde pode provar a famosa ginjinha.
Mais ou menos alegres, consoante a quantidade de ginja bebida, visitemos então a Igreja de São Pedro onde está sepultada a célebre pintora, Josefa d’Óbidos.
Entre outros tempos religiosos da vila, destaca-se uma igreja, localizada no largo mais amplo, a Praça de Santa Maria. Referimo-nos à Igreja de Santa Maria, Matriz de Óbidos, detentora de um retábulo de Santa Catarina da autoria de Josefa d’Óbidos.
O Solar da Praça de Santa Maria é hoje museu municipal. Duas lápides dão conta da visita de D. Maria I e seu marido D. Pedro IV a esta casa.
Seguindo na direcção da fortaleza, encontramos a Torre do Relógio, assim conhecida porque em tempos aqui existiu um. Para lá das grossas paredes, outros fins teve este edifício. Serviu de casa forte do arquivo e imposto da câmara. O rei D. João III instalou aqui uma espécie de universidade que se dedicava ao ensino da Matemática e Arquitectura.
Ao lado, a Capela de Nossa Senhora do Carmo, hoje espaço cultural, está assente sobre uma mesquita. As rainhas assistiam aqui à missa numa tribuna ricamente decorada que não sobreviveu ao terramoto de 1755.
Na renovada Cerca do Castelo, antigo terreiro de armas, decidiram-se vitórias. Hoje convida ao reconforto das forças, aos concertos de Verão e a admirar uma vista diferente da zona do castelo, que acolhe a pousada.
A caminho do mar
O próximo destino é Atouguia da Baleia, um concelho que foi durante séculos um importante porto da costa ocidental de Portugal. Os interessados poderão fazer uma curta paragem junto à Igreja Matriz que tão bem se vê aquando da aproximação ao centro da vila.
Está aqui uma boa oportunidade para observarem um antigo recinto tauromáquico, o mais antigo da Península Ibérica. Desses tempos apenas ficaram os suportes de pedra, onde eram colocados os barrotes de madeira, que encerravam o recinto do espectáculo. A lembrar esses tempos, na calçada estão desenhados alguns animais. Este local fica mesmo ao lado da actual Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
O passeio termina, um pouco mais a oeste, na península do Baleal com as suas praias que dividem o mesmo areal, a do Norte mais agitada óptima para a prática de surf e outros desportos náuticos, e a do Sul mais aconchegada. Para além das praias impõe-se uma visita ao núcleo urbano chegando até à zona dos rochedos. Esta é uma boa imagem para ficar como recordação.
in http://www.lifecooler.com
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