domingo, 30 de novembro de 2008

A mula da cooperativa por Max (Maximiliano de Sousa)

HERMÍNIA SILVA, "Vamos dar de beber à alegria" ou " A Casa da Mariquinhas"

Alfredo Marceneiro - A Casa da Mariquinhas

"Destino Marcado" por Fernando Farinha


Relíquias de Lisboa: Fernando Farinha a cantar "Destino Marcado". A verdadeira "fatalidade" patente no fado.

Mouraria, Sé de Lisboa, à volta do Castelo de São Jorge (Lisboa)



Um breve passeio por alguma Lisboa antiga: Mouraria, Castelo, Alfama, Miradouro de Santa Luzia, Sé ....... que saudades ;-))

Amália Rodrigues - Trova do vento que passa



Amália Rodrigues canta aqui "Trova do Vento que passa", canção que é um exemplo de uma época muito difícil da História muito recente de Portugal.

NEVE

Como é magnifico esta paisagem
dedico-a a todos vós.
Tenham um bom feriado.BJS

sábado, 29 de novembro de 2008

A 1ª Sessão de poesia a que assisti no passado dia 27, foi sem dúvida muito interessante, mas mais enfase teria, se tivessem comparecido mais colegas. Pois o calor humano teria outra dimensão. Bem sei que foi a primeira sessão e por tal motivo deve ter existido uma certa dúvida de como iria decorrer!
Pois bem, penso que para começar esteve bem! Aproveito para daqui enviar um beijinho de AVÔ ás criancinhas que fizeram parte dos jograis Frei Cristóvão, que tão bem estiveram, acompanhadas pela sua professora Isabel Sá Lopes que encantou com os seus poemas.
Para terminar aqui deixo um lindo poema de um grande amigo que já partiu!!!

Mãos abertas

Mãos abertas, mãos de dar
As minhas mãos são assim;
Viste-as abertas chegar
E abertas hão-de ficar
Quando tu morreres em mim.

Ao partir não levarei
Nada mais do que ao chegar.
Minhas mãos, quando as mostrei,
vinham abertas e sei
Que abertas hão-de ficar.

Nunca as juntei p´ra rezar,
nem nunca as ergui aos céus;
Minhas mãos são mãos de dar
Não sabem crer nem esperar
Nem sequer dizer adeus.

Ao partir não sentirei
Nada teu partindo em mim;
De mãos abertas irei
Passado nunca o terei
As minhas mãos são assim.

Luis Pelotte

Ai os homens!

A gripe e os homens

António Lobo Antunes



Pachos na testa,terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças,
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo.
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisanas e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sózinho a apodrecer,
Ai Lurdes,Lurdes que vou morrer.


Dedico este poema aos nossos colegas ( homens), espero que
não levem a mal.
Dedico-o também à paciência das mulheres.

Vossa colega Solange

Palácio Ducal de Vila Viçosa

O Palácio Ducal de Vila Viçosa além de importante monumento, foi durante alguns séc.a Sede da Casa de Bragança, tornando-se na Casa Reinante em Portugal, quando a 1 de dezembro de 1640 foi Restaurada a Independencia de Portugal e o duque de Bragança foi aclamado Rei de Portugal (D joão iv). Depois da morte de D. Manuel ,o palácio integrou a Fundação da Casa de Bragança, abrindo as suas portas ao público, como Museu. Apresenta uma riquissima colecção de obras de arte: pintura, escultura, mobiliário, etc. Destaque para: Sala Medusa,Hércules,Biblioteca,e Armaria.Nas cocheiras, está instalada uma secção do Museu dos Coches,vendo-se entre valiosas carruagens da época, o landau que transportava a Família Real no dia do Regicídio.

Lendas de Paixão ---imperdível...para quem gosta da " sétima arte"




ano: 1994
país: EUA
género: Drama, Romance

realização
Edward Zwick

intérpretes
Brad Pitt, Anthony Hopkins, Aidan Quinn, Henry Thomas, Julia Ormond

"Legends Of The Fall" (1994 - 128m)

SINOPSE
Vencedor do Óscar da Academia para Melhor Fotografia. Baseado na novela de Jim Harrison, este épico romântico arrebatador, conta-nos a história dos irmãos Ludlow - dois homens (Brad Pitt, Aidan Quinn) apaixonados pela mesma mulher (Julia Ormond). Anthony Hopkins é também protagonista e Edward Zwick (Estado de Sítio) é o realizador. O argumento é de Susan Shilliday e Bill Wittliff.
Esta é uma apaixonada viagem aos segredos mais negros do amor, traição, e os inquebráveis laços de sangue. Lendas de Paixão é uma história poderosa sobre dois irmãos a lutar entre ficarem juntos e com a mulher que apareceu entre eles.

Pensamento de La Rochefoucauld

"Se não conseguimos encontrar contentamento em nós próprios, é inútil procurá-lo noutro lado."

La Rochefoucauld

Encerramento do Núcleo provisório do Museu José Malhoa

José Malhoa (1855-1933)
Vinha no Outono, 1914
Óleo sobre tela, 16,5x21,5 cm


O Núcleo provisório do Museu José Malhoa, no primeiro piso do Museu do Ciclismo, nas Caldas da Rainha, encerrará a partir do dia 2 de Dezembro de 2008.

Desde Junho de 2006, durante o tempo em que o edifício do Museu se encontrou encerrado para obras de remodelação, este espaço disponibilizado pela Câmara Municipal das Caldas da Rainha albergou um núcleo importante de pinturas de José Malhoa, permitindo a continuidade da ligação entre os visitantes e a obra essencial do seu patrono e a realização das suas actividades educativas e culturais.

Concluídas as obras, que dotaram o Museu de melhores condições de recepção ao público e de funcionamento, torna-se necessário proceder à transferência da colecção e à montagem da exposição permanente, prevendo-se a sua reabertura ainda no mês de Dezembro.

Durante este período, a Biblioteca de Arte do Museu permanece à leitura pública nas instalações provisórias da Biblioteca Municipal, na Rua Vitorino Fróis, nas Caldas da Rainha.

Museu José Malhoa
Parque D. Carlos I
2500-109 Caldas da Rainha
http://mjm.imc-ip.pt

LENDA DE UMA ALDEIA

Nasci em SEGURA aldeia da Raia de Espanha, Concelho de Idanha -a-Nova, Distrito de CASTELO BRANCO e desde muito novo , ouvi contar muitas vezes a seguinte »LENDA»
«Já lá vão muitos anos...
Sabe-se lá...talvez séculos!...
Pelas ruas de SEGURA, a desoras nas intermináveis noites de Inverno,surgia estranho ser, em desordenado tropel ,que a todos amedrontava, a sua aproximação mesmo aos mais animosos fazia levantar os cabelos.
Sol-posto já ninguém saía rua, e o alegre Povo sofria e passava um verdadeiro castigo.
Um dia um valente mocetão destemido, tomou a resolução de averiguar a causa de tão extraordinário fenómeno, colocou-se entre o postigo e a porta de casa de seus pais. Chovia a potes, o vento era medonho com os seus estridentes assobios,parecia impelido pelo demo. E o mocetão, valente, firme em seu posto, esperou o bastante que quase enregelava.
O tropel não se fez esperar e uma sombra negra surgiu,as pedras da calçada chispavam lume,a sombra horrenda resvalava pelas valetas, escouceava para um e outro lado, fazendo que as próprias ombreiras dos portados deitassem lume, o rapaz agora, agora um tanto assustado, colou-se bem á porta parecendo petrificado!...
O estranho fenómeno avançava cada vez mais em correria vertiginosa, o rapaz embora como se disse, um tanto amedrontado, pôde verificar que se tratava de um monstro horrendo metade cavalo metade homem, ferrado de pés e mãos, estava quase a arrepender-se da sua temeridade, mas o monstro seguindo o seu caminho desapareceu.
depois de se interrogar a si próprio, várias vezes o que fazer, procurou um dos homens mais idosos da aldeia e expôs-lhe o que vira!...
O velho respondeu-lhe: O que tu viste meu amigo, é um encanto que só se desfará se alguem tiver coragem de, escondido atrás de uma das cruzes das ruas da nossa aldeia e munido de uma vara com aguilhão, picar o monstro por forma que o faça lançar de si muito sangue. Pois deixe o caso comigo ,se aí está o remédio, picá-lo-ei eu mesmo respondeu o rapaz, Pois então toma cuidado, que, se o não o picares bem, grande perigo corres!...
O rapaz, forte e valente como se disse, disposto a dar mais uma prova do seu valor e livrar a povoação de tão grande desassossego, logo que anoiteceu, recolhidos todos e fechadas todas as portas, foi colocar-se, por entre vendaval formidável, atrás de uma cruz tendo bem apertada na mão direita, forte vara de grande aguilhão.Começou a ouvir-se o tropel, pondo-se em breve á vista a infernal criatura, o rapaz tremia, perdera quase a noção de si mesmo, fugir?
Bem se lembrava ele do concelho do velho: Toma cuidado, que se o não picares bem, grande perigo corres!...
Recobrou ânimo, estava ali para vencer ou morrer, já agora levaria ao fim a sua tarefa, esperou, o monstro avançava a todo o galope, na passagem, o heróico mocetão cravou-lhe bem a grande aguilhada, o monstro como por encanto, desapareceu. O valente moço respirou, mas tremia ainda, o seu coração batia desordenadamente, foi-se deitar,mas não podia conciliar o sono.
Que iria acontecer?
Passaram algumas noites e o tropel não mais se ouviu, que estranho facto se terá passado? Inquiriu a povoação.
O rapaz passados alguns dias contara o seu feito, muito em segredo,só aos seus íntimos. Passaram dias e noites e a povoação, de segredo em segredo, veio a saber o que se passara, perguntavam uns aos outros ,mas que figura seria essa disforme? Seria um lobisomem? E quem seria o infeliz? Passaram mais alguns dias, até que um dos mais considerados moradores de SEGURA, que havia desaparecido do convívio da povoação, apareceu sem um dos olhos. Se ele era são e escorreito,se não constara na povoação qualquer desastre, como e onde teria ele perdido a vista? Perguntavam todos os moradores de SEGURA. Fora evidentemente, o rapaz da aguilhada...E o povo passou. desde logo, a afirmar como verdade incontestável que, o monstro semi -homem semi-cavalo que tanto o incomodara, era por artes do demo ou mercê de encanto, o bom homem que aparecera, sem se saber como,sem um dos olhos.»

Great Chinese State Circus - Swan Lake (Lago dos Cisnes)



Absolutamente incrível esta coreografia!!! Vejam, por favor.
Primeiro uma coreografia de umas "rãs" fabulosa, depois, VEJAM a primeira bailarina na segunda parte da coreografia. Vão ficar sem palavras...

Ah! Esqueci-me na altura de dizer, digo agora, este video foi-me enviado pelo vosso colega Fernando Santa-Bárbara da Turma N1. Muito obrigada!!

Um conto de Natal de Miguel Torga

De sacola e bordão, o velho Garrinchas fazia os possíveis para se aproximar da terra. A necessidade levara-o longe de mais. Pedir é um triste ofício, e pedir em Lourosa, pior. Ninguém dá nada. Tenha paciência, Deus o favoreça, hoje não pode ser – e beba um desgraçado água dos ribeiros e coma pedras! Por isso, que remédio senão alargar os horizontes, e estender a mão à caridade de gente desconhecida, que ao menos se envergonhasse de negar uma côdea a um homem a meio do padre-nosso. Sim, rezava quando batia a qualquer porta. Gostavam... Lá se tinha fé na oração, isso era outra conversa. As boas acções são que nos salvam. Não se entra no céu com ladainhas, tirassem daí o sentido. A coisa fia mais fino! Mas, enfim... Segue-se que só dando ao canelo por muito largo conseguia viver.


E ali vinha de mais uma dessas romarias, bem escusadas se o mundo fosse de outra maneira. Muito embora trouxesse dez reis no bolso e o bornal cheio, o certo é que já lhe custava arrastar as pernas. Derreadinho! Podia, realmente, ter ficado em Loivos. Dormia, e no dia seguinte, de manhãzinha, punha-se a caminho. Mas quê! Metera-se-lhe na cabeça consoar à manjedoira nativa... E a verdade é que nem casa nem família o esperavam. Todo o calor possível seria o do forno do povo, permanentemente escancarado à pobreza.

Em todo o caso sempre era passar a noite santa debaixo de telhas conhecidas, na modorra de um borralho de estevas e giestas familiares, a respirar o perfume a pão fresco da última cozedura... Essa regalia ao menos dava-a Lourosa aos desamparados. Encher-lhes a barriga, não. Agora albergar o corpo e matar o sono naquele santuário colectivo da fome, podiam. O problema estava em chegar lá. O raio da serra nunca mais acabava, e sentia-se cansado. Setenta e cinco anos, parecendo que não, é um grande carrego. Ainda por cima atrasara-se na jornada em Feitais. Dera uma volta ao lugarejo, as bichas pegaram, a coisa começou a render, e esqueceu-se das horas. Quando foi a dar conta passava das quatro. E, como anoitecia cedo não havia outro remédio senão ir agora a mata-cavalos, a correr contra o tempo e contra a idade, com o coração a refilar. Aflito, batia-lhe na taipa do peito, a pedir misericórdia. Tivesse paciência. O remédio era andar para diante. E o pior de tudo é que começava a nevar! Pela amostra, parecia coisa ligeira. Mas vamos ao caso que pegasse a valer? Bem, um pobre já está acostumado a quantas tropelias a sorte quer. Ele então, se fosse a queixar-se! Cada desconsideração do destino! Valia-lhe o bom feitio. Viesse o que viesse, recebia tudo com a mesma cara. Aborrecer-se para quê?! Não lucrava nada! Chamavam-lhe filósofo... Areias, queriam dizer. Importava-se lá.

E caía, o algodão em rama! Caía, sim senhor! Bonito! Felizmente que a Senhora dos Prazeres ficava perto. Se a brincadeira continuasse, olha, dormia no cabido! O que é, sendo assim, adeus noite de Natal em Lourosa...

Apressou mais o passo, fez ouvidos de mercador à fadiga, e foi rompendo a chuva de pétalas. Rico panorama!

Com patorras de elefante e branco como um moleiro, ao cabo de meia hora de caminho chegou ao adro da ermida. À volta não se enxergava um palmo sequer de chão descoberto. Caiados, os penedos lembravam penitentes.

Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiu-se, e só então reparou que a porta da capela estava apenas encostada. Ou fora esquecimento, ou alguma alma pecadora forçara a fechadura.

Vá lá! Do mal, o menos. Em caso de necessidade, podia entrar e abrigar-se dentro. Assunto a resolver na ocasião devida... Para já, a fogueira que ia fazer tinha de ser cá fora. O diabo era arranjar lenha.

Saiu, apanhou um braçado de urgueiras, voltou, e tentou acendê-las. Mas estavam verdes e húmidas, e o lume, depois de um clarão animador, apagou-se. Recomeçou três vezes, e três vezes o mesmo insucesso. Mau! Gastar os fósforos todos é que não.

Num começo de angústia, porque o ar da montanha tolhia e começava a escurecer, lembrou-se de ir à sacristia ver se encontrava um bocado de papel.

Descobriu, realmente, um jornal a forrar um gavetão, e já mais sossegado, e também agradecido ao céu por aquela ajuda, olhou o altar.

Quase invisível na penumbra, com o divino filho ao colo, a Mãe de Deus parecia sorrir-lhe. Boas festas! — desejou-lhe então, a sorrir também. Contente daquela palavra que lhe saíra da boca sem saber como, voltou-se e deu com o andor da procissão arrumado a um canto. E teve outra ideia. Era um abuso, evidentemente, mas paciência. Lá morrer de frio, isso vírgula! Ia escavacar o arcanho. Olarila! Na altura da romaria que arranjassem um novo.

Daí a pouco, envolvido pela negrura da noite, o coberto, não desfazendo, desafiava qualquer lareira afortunada. A madeira seca do palanquim ardia que regalava; só de cheirar o naco de presunto que recebera em Carvas crescia água na boca; que mais faltava?

Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra e sentou-se. Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência, ergueu-se e chegou-se à entrada da capela. O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a casa toda. É servida?

A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino também.

E o Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira.

— Consoamos aqui os três — disse, com a pureza e a ironia de um patriarca. — A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José.

Miguel Torga


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Do filme Casablanca por Frank Sinatra

"I'm Singing in the rain", Gene Kelly



Nada mais a propósito.....disfrutem do que é uma das mais espectaculares cenas de cinema de sempre!!! Um clássico!!!! Absolutamente fantástico!!

Tobsthebest

Cuidado com eles. Não precisam se escadas para subir qualquer prédio.!!!!!!!

Johnny Depp - Nomeado para Melhor Actor de 2008



Johnny Depp, aqui em "Sweeney Todd - The Demon Barber of Fleet Street" e entrevista.
(Está em inglês sem legendas, mas tem muitas cenas do filme) Deliciem-se com a Arte de "Bem Representar"!

Para a fãs de Depp

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Marradas com efeitos de som

Guitarra toca baixinho-Francisco Jose

Judy Garland-Have Yourself A Merry Little Christmas



Como aqui canta a Judy Garland, façam do vosso Natal o melhor possível, apesar de todas as tristezas que se levam na vida. Por favor, façam esse esforço, sim? Peço-vos eu, permitam-me isso. ;-)

Bing Crosby "White Christmas"



O original "White Christmas" pelo grande Bing Crosby.

Feliz Natal para todos os colegas

Dialectica - Vinícius de Moraes

É claro que a vida é boa
E a alegria,a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste

Vinícius de Moraes

A CASA de Vinicius de Moraes

A casa
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.

VÁ PARA FORA CÁ DENTRO

Óla a todos. Estive ausente durante algum tempo, retomei na aula passada. Viajei até ao norte de Portugal que está cada vez mais bonito, graças ao excelente trabalho que tem vindo a ser feito pelos autarcas e população. Estive em Guimarães, Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Viseu que aconselho a todos visitar. A preocupação com o ambiente e o património histórico é uma constante. A propósito, quando será que o centro histórico da cidade de Caldas da Rainha terá a mesma sorte? Maria Júlia

Um Natal para viver!

O Natal é amor e sem amor não há NATAL.
Enquanto o homem, não olhar à sua volta , e ver a pobreza desse amor para com a humanidade, o meio ambiente os animais etc.
Não temos Natal mas sim, um Natal de consumismo, onde o homem ultrapassa todas as suas possiblidades, caindo muitas vezes na miséria, faltando o amor, a paz que é fonte e razão de viver.
Desejo-vos a todos caros colegas:
Um Natal com muita paz amor e saúde.

Carolina Gomes Ventura.
A Freguesia de Salir do Porto , pertence ao Concelho de Caldas da Rainha,
Distrito de Leiria.
É uma Freguesia,que a Poente ,é banhada pelo Oceano Atlântico ,tendo a
seus pés a linda baía de S. Martinho do Porto
Na foz do Rio Tornada ,na inserção com a baia de S.Martinho, localisa-se
a praia de Salir do Porto,circundada pelas suas famosas dunas que dão aos
seus utentes uma boa possibilidade de passar férias num constante contacto
com a natureza,além da paisagem natural que se contempla.

NOTA DE BOAS VINDAS

Olá colegas ,entrei recentemente na Universidade Senior de Caldas da Rainha,espero aprender e ser aceite com alegria e boa vontade por todos, OBRIGADO. JOAQUIM VINAGRE

O GATO de VINICIOS de MORAIS

O gato
Com um lindo salto
Lesto e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pega corre
Bem de mansinho
Atrás de um pobre
De um passarinho
Súbito, pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
E quando tudo
Se lhe fatiga
Toma o seu banho
Passando a língua
Pela barriga.

BOAS FESTAS

Olá sou o Eduardo vou partir para a Suiça desejo a todos FELIZ NATAL!

Votos de boas festas e um próspero ano novo

Olá colegas, bom dia. Sou a Brígida. Entrei agora no Blog.
Dsejo um bom Natal a todos, com muitos doces, amor e paz para todos.

O DIA DA CHEGADA 27-11-2008 9 h 00

OLÁ acabo de chebar ao blog . Bom dia.

Embora esteja um lindo dia de sol,está um pouco frio.

Sou o colega Augusto.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

UM SORRISO

UM SORRISO


Nada custa mas rende muito.
Enriquece quem o recebe, sem empobrecer quem o dá.
Às vezes dura um instante, mas os seus efeitos nunca acabarão.
Ninguém é tão rico que o possa desprezar.
Ninguém é tão pobre que o não possa oferecer a todos.
Cria felicidade em todos e em tudo.
É o símbolo da amizade e da boa vontade:
É medicina para os doentes: repouso para os fatigados: nesga de sol para os tristes e ressurreição para os desesperados.
Não se compra nem se recebe a crédito:
Ninguém o pode roubar.
Nenhuma moeda pode pagar a sua preciosidade. Se durante o tempo de embirração os vossos colaboradores não estiverem muito dispostos para vos sorrir, tende compaixão deles:Dai-lhes vós um sorriso de compreensão, porque...
Não há ninguém que tenha mais necessidade de um sorriso do que aquele que o não pode ou não quer oferecer.
NOTE BEM:
Para carregar as sobrancelhas, é necessário pôr a trabalhar ao mesmo tempo, 72 (setenta e dois) musculos.
Para sorrir, apenas 14 (catorze)!
Então, devemos sorrir sempre! Sorria! Sorria para que a vida lhe sorria!!!

Acróstico "Dezembro"


Este trabalho foi realizado pela turma da minha filha, no ano passado
Guilhermina

Sophia de Mello Breyner Andersen

“Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar”


Sophia de Mello Breyner
Andersen, 1962

Sophia de Mello Breyner Andersen

“Mónica é uma pessoa tão extraordinária que consegue simultaneamente: ser boa mãe de família, ser chiquíssima, ser dirigente da «Liga Internacional das Mulheres Inúteis», ajudar o marido nos negócios, fazer ginástica todas as manhãs, ser pontual, ter imensos amigos, dar muitos jantares, ir a muitos jantares, não fumar, não envelhecer, gostar de toda a gente, gostar dela, dizer bem de toda a gente, toda a gente dizer bem dela, coleccionar colheres do séc. XVII, jogar golfe, deitar-se tarde, levantar-se cedo, comer iogurte, fazer ioga, gostar de pintura abstracta, ser sócia de todas as sociedades musicais, estar sempre divertida, ser um belo exemplo de virtudes, ter muito sucesso e ser muito séria.
Tenho conhecido na vida muitas pessoas parecidas com a Mónica. Mas são só a sua caricatura. Esquecem-se sempre ou do ioga ou da pintura abstracta.
Por trás de tudo isto há um trabalho severo e sem tréguas e uma disciplina rigorosa e constante. Pode-se dizer que Mónica trabalha de sol a sol.
De facto, para conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui, Mónica teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade.
A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.
Isto obriga Mónica a observar uma disciplina severa. Como se diz no circo, «qualquer distracção pode causar a morte do artista». Mónica nunca tem uma distracção. Todos os seus vestidos são bem escolhidos e todos os seus amigos são úteis. Como um instrumento de precisão, ela mede o grau de utilidade de todas as situações e de todas as pessoas. E como um cavalo bem ensinado, ela salta sem tocar os obstáculos e limpa todos os percursos. Por isso tudo lhe corre bem, até os desgostos.
Os jantares de Mónica também correm sempre muito bem. Cada lugar é um emprego de capital. A comida é óptima e na conversa toda a gente está sempre de acordo, porque Mónica nunca convida pessoas que possam ter opiniões inoportunas. Ela põe a sua inteligência ao serviço da estupidez. Ou, mais exactamente: a sua inteligência é feita da estupidez dos outros. Esta é a forma de inteligência que garante o domínio. Por isso o reino de Mónica é sólido e grande.
Ela é íntima de mandarins e de banqueiros e é também íntima de manicuras, caixeiros e cabeleireiros. Quando ela chega a um cabeleireiro ou a uma loja, fala sempre com a voz num tom mais elevado para que todos compreendam que ela chegou. E precipitam-se manicuras e caixeiros. A chegada de Mónica é, em toda a parte, sempre um sucesso. Quando ela está na praia, o próprio Sol se enerva.
O marido de Mónica é um pobre diabo que Mónica transformou num homem importantíssimo. Deste marido maçador Mónica tem tirado o máximo rendimento. Ela ajuda-o, aconselha-o, governa-o. Quando ele é nomeado administrador de mais alguma coisa, é Mónica que é nomeada. Eles não são o homem e a mulher. Não são o casamento. São, antes, dois sócios trabalhando para o triunfo da mesma firma. O contrato que os une é indissolúvel, pois o divórcio arruína as situações mundanas. O mundo dos negócios é bem-pensante.
É por isso que Mónica, tendo renunciado à santidade, se dedica com grande dinamismo a obras de caridade. Ela faz casacos de tricot para as crianças que os seus amigos condenam à fome. Às vezes, quando os casacos estão prontos, as crianças já morreram de fome. Mas a vida continua. E o sucesso de Mónica também. Ela todos os anos parece mais nova. A miséria, a humilhação, a ruína não roçam sequer a fímbria dos seus vestidos. Entre ela e os humilhados e ofendidos não há nada de comum.
E por isso Mónica está nas melhores relações com o Príncipe deste Mundo. Ela é sua partidária fiel, cantora das suas virtudes, admiradora de seus silêncios e de seus discursos. Admiradora da sua obra, que está ao serviço dela, admiradora do seu espírito, que ela serve.
Pode-se dizer que em cada edifício construído neste tempo houve sempre uma pedra trazida por Mónica.
Há vários meses que não vejo Mónica. Ultimamente contaram-me que em certa festa ela estivera muito tempo conversando com o Príncipe deste Mundo. Falavam os dois com grande intimidade. Nisto não há evidentemente, nenhum mal. Toda a gente sabe que Mónica é seriíssima toda a gente sabe que o Príncipe deste Mundo é um homem austero e casto.
Não é o desejo do amor que os une. O que os une e justamente uma vontade sem amor.
E é natural que ele mostre publicamente a sua gratidão por Mónica. Todos sabemos que ela é o seu maior apoio; mais firme fundamento do seu poder.”

in Contos Exemplares
Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia de Mello Breyner Andersen

"Um homem e uma mulher fazem uma viagem, que poderia ser a viagem da vida.
Percorrem uma estrada e ao chegarem a uma encruzilhada escolhem um caminho, mas a meio desse caminho notam que se enganaram e tentam regressar à encruzilhada, mas já não a encontram e decidem continuar em frente... Chegam outra vez a uma parte da estrada em que têm de optar por uma colina com árvores ou uma planície e resolvem subir a colina para poderem avistar todos os caminhos e encontrarem o certo para chegarem ao seu destino.
Ao chegar lá avistam um homem e perguntam-lhe pela encruzilhada. O homem diz para esperarem um pouco que logo lhes indicava o caminho. Enquanto esperavam pediram ao homem que lhes indicasse onde podiam beber água. Quando voltaram da fonte, já o homem não estava lá. Decidiram voltar para o carro e ir na direcção que o homem lhes tinha indicado, mas quando chegaram ao lugar onde estava o carro já este havia desaparecido. Resolveram voltar ao lugar da água mas a fonte também já não existia.
Seguiram a estrada e passado algum tempo encontraram uma casa, bateram á porta três vezes porque embora ninguém abrisse eles ouviam vozes dentro da casa. Acabaram por arrombar a porta mas não estava lá ninguém muito embora estivesse o lume acesso e a roupa estendida no arame.
Decidiram voltar à estrada, mas a estrada já não existia, regressaram à casa mas esta tinha desaparecido. A mulher já estava desesperada e cansada, mas o homem insistiu para continuarem.
Várias coisas encontraram pelo caminho mas quando voltavam atrás para ir buscá-las já estas haviam desaparecido.
Chegaram à floresta, encontraram um lenhador que lhes indicou um caminho que mais uma vez não encontraram e quando voltaram para trás e também o lenhador já não se encontrava.
Tentaram de novo encontrar a estrada, e mesmo perdidos um sentimento de felicidade tomou conta deles.
Encontraram um rio onde nadaram muito, repousaram naquela terra que se parecia tanto com a terra para onde iam...
Resolveram retomar a longa caminhada e começaram a ouvir vozes mas estas distanciavam-se à medida que eles se aproximavam até deixarem de ouvi-las.
Chegaram ao fim da floresta, já era noite e não havia luz nenhuma a não ser a das estrelas, e aperceberam-se de que estavam perto de um abismo, tentaram seguir um carreiro que havia rente ao abismo mas o homem escorregou e deixou de responder à mulher. Esta tentou seguir o carreiro para procurar o homem, quando já não havia passagem tentou descer o abismo mas não havia como descer e apercebeu-se assim que já não tinha como sair dali e que acabaria por cair..."

in Contos Exemplares
Sophia de Mello Breyner Andersen

PRENDA DE NATAL ADIADA

Era um vez uma menina de uma aldeia, filha de pais muito pobres,mas que adorava o Natal , o Presépio, os cânticos de Natal, e o cheirinho das filhozes e sobretudo acreditava que se se portasse bem ao longo do ano e não fizesse tavessuras o Menino Jesus não se esqueceria de lhe pôr uma prenda no seu gasto sapatinho que punha sempre na chaminé na noite de Natal.
Todas as noites a menina juntava as suas orações um pedido:- Menino Jesus, eu gostava tanto de ter no sapatinho no próximo Natal uma boneca grande, daquelas que mexem os braços e as pernas para eu puder trazer ao colo, chamar de filha,abraçar como eu gostaria que alguém me abraçasse, para lhe fazer vestidinhos dos meus trapinhos e por-lhe o nome de joaninha..Mas....Quando chegavam as noites mágicas de Natal e a menina ía por o sapatinho na chaminé...da boneca desejada nem rasto...O que lá estava invariávelmente era um embrulhinho com uma camisolinha interior( que mais tarde veio a saber ser a mana mais velha quem a lá punha).
Os anos passaram....E a menina nunca teve a tão desejada boneca nem outros brinquedos. Ficou sempre um pouco zangada com o Menino Jesus......Mas quando a menina cresceu, e como cresceu... chegou aos 54 anos. Então finalmente teve a sua maravilhosa boneca. Mas desta vez de Carne e osso. É uma boneca linda. Ela fala, ele ri, ela canta, ela abraça e diz:- AVÓ GOSTO MUITO DE TI. AVó ADORO-TE.... e chama-se JOANA.......obrigada Menino Jesus.
autoria--Maria Teresa oliveira

Metállica--Nothing Else Matters----"radical...." mas muito bom!

PADRE ANTÓNIO VIEIRA

Para nascer, pouca terra;
para morrer toda a terra.
Para nascer Portugal;
para morrer, todo o mundo

Pde António Vieira
THE FERNANDO PESSOA AUCTION
13 de NOVEMBRO - 21H
CENTRO CULTURAL DE BELÉM - LISBOA
LEILÃO DO ANO pela Leiloeira e Galeria de Arte P4Ltd (Potássio Quatro Limitada): o Leilão Fernando Pessoa – Manuscritos, Documentos Dactilografados, Livros, Revistas de Arte e Literárias, Fotografia e outros objectos do seu espólio, pertença dos seus herdeiros.

Quadras de Aleixo

Vós que lá do vosso Império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um Mundo novo a sério.

Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão

Florbela Espanca

Saudades

Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca

Abba

A bomba atômica - Vinicius de Moraes

A bomba atômica
I

e = mc2 EINSTEIN Deusa, visão dos céus que me domina . . . tu que és mulher e nada mais! ("Deusa", valsa carioca)
Dos céus descendo
Meu Deus eu vejo
De pára-quedas?
Uma coisa branca
Como uma forma
De estatuária
Talvez a forma
Do homem primitivo
A costela branca!
Talvez um seio
Despregado à lua





Talvez o anjo Tutelar cadente
Talvez a Vênus Nua, de clâmide
Talvez a inversa Branca pirâmide
Do pensamento Talvez o troçoD
e uma coluna
Da eternidade
Apaixonado
Não sei indago
Dizem-me todos
É A BOMBA ATÔMICA
Vem-me uma angústia
Quisera tanto Por um momento
Tê-la em meus braços
E coma ao vento
Descendo nua
Pelos espaços
Descendo branca
Branca e serena
Como um espasmo
Fria e corrupta
De longo sêmen
Da Via-Láctea Deusa impoluta
O sexo abrupto
Cubo de prata
Mulher ao cubo
Caindo aos súcubos
Intemerata
Carne tão rija
De hormônios vivos
Exacerbada
Que o simples toque
Pode rompê-la
Em cada átomo
Numa explosão
Milhões de vezes
Maior que a força
Contida no ato
Ou que a energia
Que expulsa o feto ica
Que não gosta de matar!
Coitada da bomba atômica
Que não gosta de matar
Mas que ao matar mata tudo
Animal e vegetal
Que mata a vida da terra
E mata a vida do ar
Mas que também mata a guerra . . .
Bomba atômica que aterra!
Bomba atônita da paz!
Pomba tonta, bomba atômica
Tristeza, consolação
Flor puríssima do urânio
Desabrochada no chão
Da cor pálida do hélium
E odor de rádium fatal
Lœlia mineral carnívora
Radiosa rosa radical.
Nunca mais oh bomba atômica
Nunca em tempo algum, jamais
Seja preciso que mates
Onde houve morte demais:
Fique apenas tua imagem
Aterradora miragem
Sobre as grandes catedrais:
Guarda de uma nova era Arcanjo insigne da paz!

III
Bomba atômica, eu te amo! és pequenina
E branca como a estrela vespertina
E por branca eu te amo, e por donzela
De dois milhões mais bélica e mais bela
Que a donzela de Orleães;
eu te amo, deusa Atroz,
visão dos céus que me domina
Da cabeleira loura de platina
E das formas aerodivinais —
Que és mulher, que és mulher e nada mais!
Eu te amo, bomba atômica, que trazes
Numa dança de fogo, envolta em gazes
A desagregação tremenda que espedaça
A matéria em energias materiais!
Oh energia, eu te amo, igual à massa
Pelo quadrado da velocidade
Da luz!
alta e violenta potestade Serena!
Meu amor . . .
desce do espaço
Vem dormir, vem dormir, no meu regaço
Para te proteger eu me encouraço
De canções e de estrofes magistrais!
Para te defender, levanto o braço
Paro as radiações espaciais
Uno-me aos líderes e aos bardos, uno-me
Ao povo ao mar e ao céu brado o teu nome
Para te defender, matéria dura
Que és mais linda, mais límpida e mais pura
Que a estrela matutina! Oh bomba atômica
Que emoção não me dá ver-te suspensa
Sobre a massa que vive e se condensa
Sob a luz! Anjo meu, fora preciso
Matar, com tua graça e teu sorriso
Para vencer? Tua enégica poesia
Fora preciso, oh deslembrada e fria Para a paz?
Tua fragílima epiderme Em cromáticas brancas de cristais
Rompendo? Oh átomo, oh neurônio, oh germe
Da união que liberta da miséria! Oh vida palpitando na matéria
Oh energia que és o que não eras Quando o primeiro átomo incriado Fecundou o silêncio das Esferas: Um olhar de perdão para o passado
Uma anunciação de primaveras!

Pessoa

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,

E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

Alberto Caeiro

O PORTUGAL FUTURO - RUY BELO

O PORTUGAL FUTURO

O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que chamarem
Portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter o oeste o mar e a Espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o Portugal Futuro.

Ruy Belo - Poeta de S. João da Ribeira

Marcha de quarta-feira de cinzas - vinicius de moraes

Marcha de quarta-feira de cinzas


Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou.


Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri, se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor.


E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade...


A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar.


Porque são tantas coisas azuis
Há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe...


Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz.

Vejam Bem! (José Afonso)

VEJAM BEM
( Letra e Música de José Afonso)

Vejam bem
que não há
só gaivotas
em terra
quando um homen
se põe (bis)
a pensar
Quem lá vem
dorme à noite
ao relento (bis))
na areia
dorme à noite
ao relento no mar

E se houver
uma praça
de gente
madura
e um estátua (bis)
de febre
a arder
anda alguém
pela noite
de breu
à procura
e não há
quem lhe queira (bis)
valer

Vejam bem
daquele homem
a fraca figura
desbravando
os caminhos (bis)
do pão
e se houver
uma praça de gente
madura
ninguém vem
levantá-lo (bis)
do chão

Vejam bem
....................
quem lhe queira

Alda Lara

Testamento

À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...

Samba de Orly Vinicius de Morais

Samba de Orly
1970


Vai meu irmão Pega esse avião Você tem razão De correr assim Desse frio Mas beija O meu Rio de Janeiro Antes que um aventureiro Lance mão
Pede perdão Pela duração Dessa temporada Mas não diga nada Que me viu chorando E pros da pesada Diz que eu vou levando Vê com é que anda Aquela vida à toa E se puder me manda Uma notícia boa

Mário Cesariny

passagem dos elefantes

Elefantes na água optimistas à solta
optimistas à solta elefantes na árvore

elefantes na árvore optimistas na esquadra
optimistas na esquadra elefantes no ar

elefantes no ar optimistas em casa
optimistas em casa elefantes na esposa

elefantes na esposa optimistas no fumo
optimistas no fumo elefantes na ode

elefantes na ode optimistas na raiva
optimistas na raiva elefantes no parque

elefantes no parque optimistas na filha
optimistas na filha elefantes zangados

elefantes zangados optimistas na água
optimistas na água elefantes na árvore

Mário Cesariny

POEMA A DINAMENE-LUIS DE CAMÕES

Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!
Como já pera sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?
Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!
Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!
Que pena sentirei que valha tanto,
Que inda tenha por pouco viver triste?
Luís de Camões

Samba de Orly Vinicius de Morais

Samba de Orly
1970


Vai meu irmão Pega esse avião Você tem razão De correr assim Desse frio Mas beija O meu Rio de Janeiro Antes que um aventureiro Lance mão
Pede perdão Pela duração Dessa temporada Mas não diga nada Que me viu chorando E pros da pesada Diz que eu vou levando Vê com é que anda Aquela vida à toa E se puder me manda Uma notícia boa

Florbela espanca.



Colegas!Vejo com agrado, que partilham comigo, o gosto por poesia.Nos últimos dias tem publicado, aqui poemas de alguns poetas, consagrados, estando entres estes a minha poetisa preferida... Florbela Espanca.
Quem foi Florbela Espanca?!
Nasceu em Vila VIçosa, no ano de 1894 pondo fim á vida em 1930.A sua " curta" vida foi marcada por sentimentos muito fortes...
Egocentrica,, sedenta de glória, intensamente erótica,os temas dos seus sonetos, refletem: paixão, saudade,e ódio.A sua moralidade , e emocionalidade ,eram ( para a época) pouco ortodoxas.

poema de Florbela Espanca

Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Libelo

Vinicius de Moraes

Libelo
De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar – e um barco [com o
nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar ?

E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem [senão de suas mãos, uma pro caniço, outra pro queixo, que é para ele poder se perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra puxar tristeza, e um pouco de pensamento pra pensar até se perder no infinito...
..............................
De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra -- um pedaço [bem verde de terra -- e uma casa, não grande, branquinha, com uma horta e um modesto pomar; e um jardim – que um jardim é importante – carregado de [flor de cheirar ?
E enquanto morando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem [senão de suas mãos para mexer a terra e arranhar uns acordes de violão quando a noite se faz de luar, e uma garrafa de uísque pra puxar mistério, que casa sem mistério não valor morar...
.................................
De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar, um [amigo bem seco, bem simples, desses que nem precisa falar -- basta olhar -- um desses que desmereça um pouco da amizade, de um amigo pra paz e pra [briga, um amigo de paz e de bar ?
E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem [senão de suas mãos para apertar as mãos do amigo depois das ausências, e pra bater nas costas do amigo, e pra discutir com o amigo e pra servir bebida à vontade ao amigo ?
...................................
De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, uma [mulher com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular ? E enquanto pensando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de [um carinho de mulher quando a tristeza o derruba, ou o destino o carrega em sua onda sem rumo ?
Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher -- as únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo amigo ..."

tenho tanto sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço,ao medir-me,
que tudo isto é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos,todos que vivemos,
uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém a verdadeira
E qual errada ningém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
E a que tem que pensar

Frlorbela Espanca Os Teus Olhos

Teus olhos
Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.
Neles ficaram meus palácios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d'Além-Mundos ignorados!
Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas...
Enigmáticas campas medievais...
Jardins de Espanha... catedrais eternas...
Berço vindo do Céu à minha porta...
Ó meu leito de núpcias irreais!...
Meu sumptuoso túmulo de morta!...
Florbela Espanca

POEMA DE CAMÕES

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís de Camões

POEMA DE MÁRIO CESARINY

Em todas as ruas te encontro


Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco


Mário Cesariny

Frorbela Espanca Vaidade

Vaidade
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

Florbela Espanca

poema do Vinicius

O filho do homem

O mundo parou
A estrela morreu
No fundo da treva
O infante nasceu.

Nasceu num estábulo
Pequeno e singelo
Com boi e charrua
Com foice e martelo

Ao lado do infante
O homem e a mulher
Uma tal Maria
Um José qualquer.

A noite o fez negro
Fogo o avermelhou
A aurora nascente
Todo o amarelou.

O dia o fez branco
Branco como a luz
À falta de um nome
Chamou-se Jesus.

Jesus pequenino
Filho natural
Ergue-te, menino
É triste o Natal.

Vinicius de Moraes

O Relógio - Vinicius de Moraes

O gatoCom um lindo saltoLesto e seguroO gato passaDo chão ao muroLogo mudandoDe opiniãoPassa de novoDo muro ao chãoE pega correBem de mansinhoAtrás de um pobreDe um passarinhoSúbito, páraComo assombradoDepois disparaPula de ladoE quando tudoSe lhe fatigaToma o seu banhoPassando a línguaPela barriga.

Hoje é Natal

“Hoje é Natal”
O avô Fernando chegou de longe com uma mala muito pesada.
Ajudei-o a levá-la para o meu quarto e não o larguei mais, enquanto não a abriu.
- O que traria ele dentro daquela mala tão grande? Prendas de Natal? Surpresas? Brinquedos? Livros? Perguntava a mim próprio.
- Ó avô, o que é que trazes?
- Tem calma, tem paciência que logo te mostro! – Aconselhou, ainda com a voz cansada por ter de carregar aquela mala.
- Anda lá, diz-me só a mim que eu não digo a mais ninguém!
- As prendas e as surpresas só se mostram logo, depois da ceia. Não sejas chato!
- Diz-me, que eu prometo guardar segredo! – Insisti.
Começou, então, a abrir a mala devagarinho e eu fiquei à espera que de lá de dentro saísse qualquer coisa de mágico: um avião que voasse – vrrruuum, vrrruuum – ou qualquer coisa assim...
Mas não. Apareceram a escova de dentes, a gilete, o pincel de barba, uma toalha de rosto, o seu pijama e vários embrulhinhos.
- Avô, que prenda me vais oferecer?
- Que prenda me vais dar tu? Perguntou-me ele
Não lhe respondi.
A um canto, estava um rolo envolvido em papel azul-marinho, prateado.
- E isso, o que é? É um telescópio? É um caleidoscópio?
- Isso? Isso é uma luz para o Natal! Eu chamo-lhe Espírito de Natal...
E como eu não parava de fazer perguntas, ele achou que o melhor era desembrulhar o rolo de papel prateado. E, quando o ia a fazer a minha mãe chamou-nos:
- Venham para a mesa!
O meu avô ainda muito cansado, desceu devagar e eu acompanhei-o
O meu pai, que se fechara na sala de jantar a preparar uma pequena brincadeira, assim que íamos a entrar fez:
- Té té té tzzéééé !!! - E abriu a porta e as luzes.
A sala tinha um cheirinho bom a rabanadas, a sonhos, a filhoses e a aletria com desenhos de canela. Estava tudo muito bonito e até a música ambiente eram as vozes de anjos de um CD que a minha mãe comprara de propósito para aquela noite.
Por cima da lareira, o meu pai pôs o presépio e ao canto construiu uma Árvore de Natal, apenas com ramos de pinheiro, porque pensava ele que as árvores não se deviam de abater.
Disse-me uma vez:
- Se um dia tiveres de cortar uma árvore, deves pedir-lhe desculpa, ouviste? Uma árvore é um ser vivo!
A seguir o meu avô pediu-me que fosse à sua mala buscar o Espírito do Natal.
Ao ouvi-lo, os meus pais cruzaram o olhar e eu, subi a correr as escadas que davam para o meu quarto, pois a minha imaginação quase rebentava de curiosidade. Ainda ouvi o meu avô a dizer:
- Então, vens ou não?!
- Desci as escadas a correr e entreguei-lhe o rolo de papel prateado. Fiquei à espera, para ver o que de lá saía.
Era agora, era agora que eu ia conhecer o tal Espírito do Natal.
Como o avô desembrulhou o rolo com muito cuidadinho, eu comecei a acreditar que, se calhar, havia mesmo qualquer mistério.
Desenrolou, desenrolou, até que... apareceu uma simples vela de cera branca.
Oooohhhh! Uma vela! – Disse de mim para mim, muito desiludido.
Embora a sala tivesse bastante luz, o avô Fernando riscou um fósforo e pediu à minha mãe um castiçal, acendendo a vela e colocando-a no centro da mesa. Depois disse:
- Na chama desta vela mora o Espírito do Natal! Nesta noite, nesta mesa e nesta chama, para mim estarão presentes todas as nossas recordações e todas as pessoas de quem gostamos.
Assim que acabou de dizer isto o meu avô ficou triste e a minha mãe dando-lhe um beijo, disse-lhe baixinho:
_ Então, então, pai hoje é Natal!
O avô concordou e disse:
- Vamos à ceia!
Depois comemos, rimos e jogámos até chegar a hora da distribuição das prendas.
O meu pai deu-me um livro, a minha mãe uma camisa aos quadrados e, o meu avô, umas grossas meias de lã, pois como ele andava sempre com os pés frios, se calhar, pensou que eu sofria do mesmo mal.
Eu fiquei muito desconsolado porque esperava um brinquedo.
O meu avô olhando para mim chamou-me para a sua beira e disse-me:
- Olha para a luz da vela.
- Vês alguma coisa?
- Não vejo nada. Só a chama a dizer não, devagarinho!
- Para mim, na Noite de Natal, esta chama significa tudo o que o ser humano tem de bom dentro de si: a saudade do amor, da amizade e da partilha das coisas. É por isso que lhe chamo o Espírito do Natal. Nesta noite, quando olho atentamente a luz da vela, lembro-me com muito carinho, de todas as pessoas que conheci e de quem gostei muito.
Estou agora a olhar para ela e a lembrar-me do Natal mais lindo que eu tive em toda a minha vida. Queres que te conte?
- Conta, avô, conta!
E o avô contou uma história verdadeira e muito triste, que se tinha passado na sua terra, quando que ele tinha a minha idade.
E, no fim, quando o avô Fernando se calou, olhei para a chama da vela e senti que o Espírito do Natal, estava ali e me tinha visitado, também, naquela noite.

História adaptada do Conto de José Vaz, “ Hoje é Natal “
Cidalina Oliveira

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA


terça-feira, 25 de novembro de 2008

poema de Manuel alegre

Trova do Vento que Passa»

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Casa-Museu José Anastácio Gonçalves


Objectos da Rainha D. Amélia expostos pela primeira vez


Os anos de exílio da Rainha D. Amélia

Colecção Rémi Fénérol

20.Nov.08 a 30.Abr.09



Objectos que pertenceram à Rainha D. Amélia, mulher de D. Carlos, vão ser expostos pela primeira vez ao público, em Lisboa, a partir de quinta-feira, na Casa-Museu José Anastácio Gonçalves. LUSA

"Cerca de 90% dos objectos são expostos pela primeira vez, apenas dois vestidos já estiveram numa exposição em Versalhes, localidade onde a Rainha era muito querida pelo seu apoio à população e obras de caridade", disse à Lusa o director da Casa-Museu, José Alberto Ribeiro.

Além de vestidos, na exposição, que estará patente até Abril, poderão ver-se jóias, papéis diversos como anotações das suas visitas, esculturas, pinturas, objectos de culto, cardápios e dois diários.

"Os diários referem-se ao tempo em que D. Amélia foi voluntária da Cruz Vermelha, durante a I Grande Guerra (1914-1918)", indicou José Alberto Ribeiro.

Uma outra curiosidade é o último menu da Família Real em Portugal, relativo ao almoço de 5 de Outubro de 1910, além de muitas outras ementas pintadas por Enrique Casanova.

Esta exposição, explicou o director da Casa-Museu, "insere-se no conceito de uma colecção na casa de um coleccionador, na medida em que os objectos expostos são parte da colecção de Rémi Fénérol sobre objectos da realeza".

O médico José Anastácio Gonçalves, falecido em 1965 em Leninegrado (actual São Petersburgo), foi um coleccionador de arte portuguesa, tendo sido amigo, entre outros, de José Malhoa.*)

Referindo-se a Fénérol, José Alberto Gonçalves esclareceu que o coleccionador seguiu os passos dos herdeiros dos antigos empregados da Rainha a quem esta, ao longo da vida, ofereceu jóias e objectos pessoais, e que "só se desfizeram desses bens na década de 1980".
Última francesa coroada

Para os franceses, D Amélia "tem um destaque especial, na medida em que foi a última francesa coroada Rainha", assinalou.

Bisneta do rei Luís Filipe de Orléans, D. Amélia casou-se com D. Carlos na Igreja de S. Domingos, em Lisboa, em 1886.

A exposição mostra, não só objectos que saíram de Portugal há cerca de um século, como outros que a Rainha foi adquirindo durante as suas estadas em Inglaterra e em França, onde faleceu, em Chesnay, em 1951.

Fazem parte da mostra, entre outros, quadros pintados por D. Carlos e o Príncipe D. Luís Filipe e aguarelas pintadas pela própria Rainha, bem como objectos de culto como crucifixos e jóias pessoais que a república restituiu em 1911 a D. Manuel II e a D. Amélia.

José Alberto Ribeiro, a este propósito, citou uma frase de D. Amélia, que, referindo-se á jóias devolvidas, escreveu: "Nem um alfinete faltou".

Esta exposição visa atrair mais público à Casa-Museu, que este ano recebeu já 10.000 visitantes.

O historiador Pedro Tavares, em declarações à Lusa, louvou a iniciativa, afirmando que "é através destes eventos que se dinamiza um espaço museológico como a Casa-Museu Anastácio Gonçalves, que tem óptimas características".

Localizada na zona de Picoas, a Casa-Museu reúne essencialmente objectos de uso quotidiano de finais do século XIX e da primeira metade do seguinte e uma colecção de arte portuguesa.

"O facto de Anastácio Gonçalves ser um convicto republicano não choca de forma alguma com a sua casa receber agora objectos da Rainha", observou o historiador.

in SIC online

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* (Este, foi o primeiro dono da casa, tendo feito de um salão envidraçado de alto-abaixo, no primeiro piso, o seu atelier- Maria Celeste Monteiro)

Manuel Bandeira

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre

Perdigão perdeu a pena

Perdigão perdeu a pena

Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.
Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.
Quis voar a u~a alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha.

Luís de Camões

The Beatlles--Yesterday

CALÇADA DE CARRICHE de Antonio Gedeão


Enviado pela Suzel


CALÇADA DE CARRICHE

de Antonio Gedeão

Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve lhe o sangue
de afogueada;
saltam lhe os peitos
na caminhada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu a deitada;
serviu se dela,
não deu por nada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Na manhã débil
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá lhe a mamada;
veste se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada;
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueija
pela calçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

mais um poema de Nuno Júdice

SOBREMESA

Quando a melancolia enche o sol, o esvazia do
seu brilho, faz baço o amarelo do rebordo, apaga
os fios que da sua esfera fulgem, pego
nele e ponho-o na travessa do bolo. Com a faca,
corto-o; e ofereço-te
uma fatia de sol, que levas à boca; e ele volta a brilhar,
iluminando-te os lábios, os olhos,
o rosto. Então, beijo-te: e é como se
tocasse o sol; como se a sua chama me queimasse,
sem doer, ou como se a sua luz entrasse por dentro
de mim, quando a sobremesa
chega ao fim.

Lágrima de Preta

Lágrima de preta
Encontrei uma preta que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima para a analisar.
Recolhi a lágrima com todo o cuidado
num tubo de ensaio bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,do outro e de frente:
tinha um ar de gota muito transparente.
Mandei vir os ácidos,as bases e os sais,
as drogas usadas em casos que tais.
Ensaiei a frio,experimentei ao lume,
de todas as vezes deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo) e cloreto de sódio.
António Gedeão

O Urso esquecido

O urso esquecido
Na noite de Natal, os duendes estavam a despedir-se do Pai Natal, depois de um grande ano de trabalho.
Quando Edgar, um duende de gorro verde, foi para dentro, encontrou um urso de peluche perdido no chão.
Ele foi logo para a rádio contactar com o Pai Natal.
- Pai Natal, você esqueceu-se dum urso de peluche para a Patrícia.
- Oh, como é que foi possível?! Traz-me já esse urso, se fazes o favor.
Então, Edgar preparou a sua rena Natalina e foi ao encontro do Pai Natal.
- Natalina, voa pelo céu fora, até ao encontro do Pai Natal!
A rena, que era muito veloz, voou o mais depressa possível, demorando apenas alguns segundos na viagem.
O Pai Natal aguardava, impaciente, junto à chaminé da casa da Patrícia.
- Ah, como ela vai ficar feliz com este lindo ursinho.
O Pai Natal desceu pela chaminé mas, como ela era estreita e ele tão gordo, teve que encolher a barriga para passar.

A Patrícia ficou muito Feliz!

Vinicius de Moraes - O Rio

O rio

Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.
Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.

Um rio nasceu.
Que coisa distante
Está perto de mim?
Que brisa Flagrante
Me vem neste instante
De ignoto jardim?

Se alguém mo dissesse,
não quisera crer.
Mas sinto-o, e é esse
O ar bom que me tece
Visões de as ver.

The Rolling Stones - Satisfaction




E estes rapazecos de 60 e muitos....não são meus alunos mas bem que podiam ser!!!! eheheheheheheheheh.......
Vou ver se eles se inscrevem!...eheheh.....

Whitney Houston Um talento que se " perdeu"...

Mar Português

Mar Português

Ó mar salgado,
quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos,
quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa, in Mensagem

Vinicius de Moraes - Soneto da intimidade

Soneto da intimidade


Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio as vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.


Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.


Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve


Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.

Ser Poeta

Ser Poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca

Alma minha gentil

Alma minha gentil, que te partiste
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Algu~a cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís de Camões

Perdigão perdeu a pena

Perdigão perdeu a pena
Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.
Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.
Quis voar a uma alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha.

Luís de Camões

Vinicius de Moraes - A mulher que passa

A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

Vinicius de Moraes

Rosário
E eu que era um menino puro
Não fui perder minha infância
No mangue daquela carne!
Dizia que era morena
Sabendo que era mulata
Dizia que era donzela
Nem isso não era ela
Era uma môça que dava.
Deixava... mesmo no mar
Onde se fazia em água
Onde de um peixe que era
Em mil se multiplicava
Onde suas mãos de alga
Sobre o meu corpo boiavam
Trazendo à tona águas-vivas
Onde antes não tinha nada.
Quanto meus olhos não viram
No céu da areia da praia
Duas estrelas escuras
Brilhando entre aquelas duas
Nebulosas desmanchadas
E não beberam meus beijos
Aqueles olhos noturnos
Luzinho de luz parada
Na imensa noite da ilha!
Era minha namorada
Primeiro nome de amada
Primeiro chamar de filha
Grande filha de uma vaca!
Como não me seduzia
Como não me alucinava
Como deixava, fingindo
Fingindo que não deixava!
Aquela noite entre todas
Que cica os cajus! travavam!
Como era quieto o sossego
Cheirando a jasmim-do-Cabo!
Lembro que nem se mexia
O luar esverdeado.
Lembro que longe, nos longes
Um gramofone tocava,
Lembro dos seus anos vinte
Junto aos meus quinze deitados
Sob a luz verde da lua.
Ergueu a saia de um gesto
Por sobre a perna dobrada
Mordendo a carne da mão
Me olhando sem dizer nada
Enquanto jazente eu via
Como uma anêmona n'água
A coisa que se movia
Ao vento que a farfalhava.
Toquei-lhe a dura pevide
Entre o pêlo que a guardava
Beijando-lhe a coxa fria
Com gosto de cana-brava.
Senti, à pressão do dedo
Desfazer-se desmanchada
Como um dedal de segredo
A pequenina castanha
Gulosa de ser tocada.
Era uma dança morena
Era uma dança mulata
Era o cheiro de amarugem
Era a lua cor de prata
Mas foi só aquela noite!
Passava dando risada
Carregando os peitos loucos
Quem sabe pra quem, quem sabe!
Mas como me perseguia
A negra visão escrava
Daquele feixe de águas
Que sabia ela guardava
No fundo das coxas frias!
Mas como me desbragava
Na areia mole e macia!
A areia me recebia
E eu baixinho me entregava
Com medo que Deus ouvisse
Os gemidos que não dava!
Os gemidos que não dava
Por amor do que ela dava
Aos outros de mais idade
Que a carregaram da ilha
Para as ruas da cidade.
Meu grande sonho da infância
Angústia da mocidade.