"Um homem e uma mulher fazem uma viagem, que poderia ser a viagem da vida.
Percorrem uma estrada e ao chegarem a uma encruzilhada escolhem um caminho, mas a meio desse caminho notam que se enganaram e tentam regressar à encruzilhada, mas já não a encontram e decidem continuar em frente... Chegam outra vez a uma parte da estrada em que têm de optar por uma colina com árvores ou uma planície e resolvem subir a colina para poderem avistar todos os caminhos e encontrarem o certo para chegarem ao seu destino.
Ao chegar lá avistam um homem e perguntam-lhe pela encruzilhada. O homem diz para esperarem um pouco que logo lhes indicava o caminho. Enquanto esperavam pediram ao homem que lhes indicasse onde podiam beber água. Quando voltaram da fonte, já o homem não estava lá. Decidiram voltar para o carro e ir na direcção que o homem lhes tinha indicado, mas quando chegaram ao lugar onde estava o carro já este havia desaparecido. Resolveram voltar ao lugar da água mas a fonte também já não existia.
Seguiram a estrada e passado algum tempo encontraram uma casa, bateram á porta três vezes porque embora ninguém abrisse eles ouviam vozes dentro da casa. Acabaram por arrombar a porta mas não estava lá ninguém muito embora estivesse o lume acesso e a roupa estendida no arame.
Decidiram voltar à estrada, mas a estrada já não existia, regressaram à casa mas esta tinha desaparecido. A mulher já estava desesperada e cansada, mas o homem insistiu para continuarem.
Várias coisas encontraram pelo caminho mas quando voltavam atrás para ir buscá-las já estas haviam desaparecido.
Chegaram à floresta, encontraram um lenhador que lhes indicou um caminho que mais uma vez não encontraram e quando voltaram para trás e também o lenhador já não se encontrava.
Tentaram de novo encontrar a estrada, e mesmo perdidos um sentimento de felicidade tomou conta deles.
Encontraram um rio onde nadaram muito, repousaram naquela terra que se parecia tanto com a terra para onde iam...
Resolveram retomar a longa caminhada e começaram a ouvir vozes mas estas distanciavam-se à medida que eles se aproximavam até deixarem de ouvi-las.
Chegaram ao fim da floresta, já era noite e não havia luz nenhuma a não ser a das estrelas, e aperceberam-se de que estavam perto de um abismo, tentaram seguir um carreiro que havia rente ao abismo mas o homem escorregou e deixou de responder à mulher. Esta tentou seguir o carreiro para procurar o homem, quando já não havia passagem tentou descer o abismo mas não havia como descer e apercebeu-se assim que já não tinha como sair dali e que acabaria por cair..."
in Contos Exemplares
Sophia de Mello Breyner Andersen
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