Nasci em SEGURA aldeia da Raia de Espanha, Concelho de Idanha -a-Nova, Distrito de CASTELO BRANCO e desde muito novo , ouvi contar muitas vezes a seguinte »LENDA»
«Já lá vão muitos anos...
Sabe-se lá...talvez séculos!...
Pelas ruas de SEGURA, a desoras nas intermináveis noites de Inverno,surgia estranho ser, em desordenado tropel ,que a todos amedrontava, a sua aproximação mesmo aos mais animosos fazia levantar os cabelos.
Sol-posto já ninguém saía rua, e o alegre Povo sofria e passava um verdadeiro castigo.
Um dia um valente mocetão destemido, tomou a resolução de averiguar a causa de tão extraordinário fenómeno, colocou-se entre o postigo e a porta de casa de seus pais. Chovia a potes, o vento era medonho com os seus estridentes assobios,parecia impelido pelo demo. E o mocetão, valente, firme em seu posto, esperou o bastante que quase enregelava.
O tropel não se fez esperar e uma sombra negra surgiu,as pedras da calçada chispavam lume,a sombra horrenda resvalava pelas valetas, escouceava para um e outro lado, fazendo que as próprias ombreiras dos portados deitassem lume, o rapaz agora, agora um tanto assustado, colou-se bem á porta parecendo petrificado!...
O estranho fenómeno avançava cada vez mais em correria vertiginosa, o rapaz embora como se disse, um tanto amedrontado, pôde verificar que se tratava de um monstro horrendo metade cavalo metade homem, ferrado de pés e mãos, estava quase a arrepender-se da sua temeridade, mas o monstro seguindo o seu caminho desapareceu.
depois de se interrogar a si próprio, várias vezes o que fazer, procurou um dos homens mais idosos da aldeia e expôs-lhe o que vira!...
O velho respondeu-lhe: O que tu viste meu amigo, é um encanto que só se desfará se alguem tiver coragem de, escondido atrás de uma das cruzes das ruas da nossa aldeia e munido de uma vara com aguilhão, picar o monstro por forma que o faça lançar de si muito sangue. Pois deixe o caso comigo ,se aí está o remédio, picá-lo-ei eu mesmo respondeu o rapaz, Pois então toma cuidado, que, se o não o picares bem, grande perigo corres!...
O rapaz, forte e valente como se disse, disposto a dar mais uma prova do seu valor e livrar a povoação de tão grande desassossego, logo que anoiteceu, recolhidos todos e fechadas todas as portas, foi colocar-se, por entre vendaval formidável, atrás de uma cruz tendo bem apertada na mão direita, forte vara de grande aguilhão.Começou a ouvir-se o tropel, pondo-se em breve á vista a infernal criatura, o rapaz tremia, perdera quase a noção de si mesmo, fugir?
Bem se lembrava ele do concelho do velho: Toma cuidado, que se o não picares bem, grande perigo corres!...
Recobrou ânimo, estava ali para vencer ou morrer, já agora levaria ao fim a sua tarefa, esperou, o monstro avançava a todo o galope, na passagem, o heróico mocetão cravou-lhe bem a grande aguilhada, o monstro como por encanto, desapareceu. O valente moço respirou, mas tremia ainda, o seu coração batia desordenadamente, foi-se deitar,mas não podia conciliar o sono.
Que iria acontecer?
Passaram algumas noites e o tropel não mais se ouviu, que estranho facto se terá passado? Inquiriu a povoação.
O rapaz passados alguns dias contara o seu feito, muito em segredo,só aos seus íntimos. Passaram dias e noites e a povoação, de segredo em segredo, veio a saber o que se passara, perguntavam uns aos outros ,mas que figura seria essa disforme? Seria um lobisomem? E quem seria o infeliz? Passaram mais alguns dias, até que um dos mais considerados moradores de SEGURA, que havia desaparecido do convívio da povoação, apareceu sem um dos olhos. Se ele era são e escorreito,se não constara na povoação qualquer desastre, como e onde teria ele perdido a vista? Perguntavam todos os moradores de SEGURA. Fora evidentemente, o rapaz da aguilhada...E o povo passou. desde logo, a afirmar como verdade incontestável que, o monstro semi -homem semi-cavalo que tanto o incomodara, era por artes do demo ou mercê de encanto, o bom homem que aparecera, sem se saber como,sem um dos olhos.»
2 comentários:
Muito bem, Joaquim! Parabéns pela mensagem!! Gostei muito!
pois é. No tempo em que não havia televisão nem electricidade, também cresci a ouvir contar estas istórias á luz da lua ou do candeeiro a petóleo. O pior era quando me ía deitar ou acordava de noite.Tinha tanto medo..... E por conta do medo ao fugir para a cama dos meus pais ás escuras, dei uma grande queda e fiquei com nariz de picapau para toda a vida....criança sofre.....Parabens pelo conto. continue. obrigada
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