quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

"Natal" de Fernando Pessoa


Natal

O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,

Cada tua badalada

Soa dentro de minha alma.


E é tão lento o teu soar,

Tão como triste da vida,

Que já a primeira pancada

Tem o som de repetida.


Por mais que me tanjas perto

Quando passo, sempre errante,

És para mim como um sonho.

Soas-me na alma distante.


A cada pancada tua,

Vibrante no céu aberto,

Sinto mais longe o passado,

Sinto a saudade mais perto.



Fernando Pessoa

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