
Suave, suave, para se estar com atenção ao Ano Novo que aí está!
Um bom 2009 para todos!!!
Manoel de Oliveira | |
Nascimento | 11 de Dezembro de 1908 (100 anos) Porto, Portugal |
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Nacionalidade | Portuguesa |
Ocupação | cineasta |
1- Reconstruir a Esperança
A população de Darfur precisa de ajuda urgente. É tempo de evitar mais perdas humanas devido à fome e às doenças causadas pela pobreza extrema e abandono que enfrentam muitos deslocados.
A UNICEF lançou um apelo e afirma que o enorme desafio de garantir a assistência necessária a mais de 3 milhões de deslocados, na sua maioria crianças, não pode ser ultrapassado só com as ajudas dos governos.
Há portugueses a trabalhar no terreno que arriscam a sua vida por solidariedade com os mais pobres e contam também com a sua solidariedade. A Campanha porDarfur quer apoiar, com a sua ajuda, os seguintes projectos concretos:
» Projectos humanitários apoiados:
![]() | Uma escola para Nyala |
Manter as Escolas Abertas |
![]() | ![]() |
MSF é uma das poucas organizações de ajuda humanitária presentes nas áreas mais violentas do leste da RDC. Por isso, a ajuda de pessoas como você é mais necessária do que nunca.
Com o intuito de chamar a atenção da opinião pública para a situação dos Kivus, MSF lançou o site Condition: Critical, construído com base nos relatos de congoleses vítimas da violência. O drama pessoal de Charles*, um dos muitos moradores da região que carregam feridas de guerra, está entre as histórias publicadas.
"Eles chegaram durante a noite. Nós estávamos dormindo. Eles entraram em nossa casa e nos amarraram. Eles queriam nos matar na casa da minha mãe. Eu tentei fugir, mas como estava amarrado, caí de barriga no chão. Um deles apontou sua arma para meu coração. Para me matar", conta Charles. Por sorte, a bala atravessou seu peito sem atingir seu coração. Ele foi admitido em estado grave no hospital de Mweso, em Kivu Norte. Charles foi operado pela equipe cirúrgica de MSF no dia 17 de novembro, e agora passa bem.
Médicos Sem Fronteiras desenvolve projetos nos Kivus desde 1992. Equipes médicas realizam cirurgias emergenciais, tratando feridas de bala e queimaduras; coordenam clínicas móveis para alcançar aqueles que fugiram para regiões mais isoladas; oferecem cuidados médicos a vítimas de violência sexual; e apoio psicológico para aqueles traumatizados pelas experiências que viveram.
* O nome foi alterado
E ali vinha de mais uma dessas romarias, bem escusadas se o mundo fosse de outra maneira. Muito embora trouxesse dez reis no bolso e o bornal cheio, o certo é que já lhe custava arrastar as pernas. Derreadinho! Podia, realmente, ter ficado em Loivos. Dormia, e no dia seguinte, de manhãzinha, punha-se a caminho. Mas quê! Metera-se-lhe na cabeça consoar à manjedoira nativa... E a verdade é que nem casa nem família o esperavam. Todo o calor possível seria o do forno do povo, permanentemente escancarado à pobreza. Em todo o caso sempre era passar a noite santa debaixo de telhas conhecidas, na modorra de um borralho de estevas e giestas familiares, a respirar o perfume a pão fresco da última cozedura... Essa regalia ao menos dava-a Lourosa aos desamparados. Encher-lhes a barriga, não. Agora albergar o corpo e matar o sono naquele santuário colectivo da fome, podiam. O problema estava em chegar lá. O raio da serra nunca mais acabava, e sentia-se cansado. Setenta e cinco anos, parecendo que não, é um grande carrego. Ainda por cima atrasara-se na jornada em Feitais. Dera uma volta ao lugarejo, as bichas pegaram, a coisa começou a render, e esqueceu-se das horas. Quando foi a dar conta passava das quatro. E, como anoitecia cedo não havia outro remédio senão ir agora a mata-cavalos, a correr contra o tempo e contra a idade, com o coração a refilar. Aflito, batia-lhe na taipa do peito, a pedir misericórdia. Tivesse paciência. O remédio era andar para diante. E o pior de tudo é que começava a nevar! Pela amostra, parecia coisa ligeira. Mas vamos ao caso que pegasse a valer? Bem, um pobre já está acostumado a quantas tropelias a sorte quer. Ele então, se fosse a queixar-se! Cada desconsideração do destino! Valia-lhe o bom feitio. Viesse o que viesse, recebia tudo com a mesma cara. Aborrecer-se para quê?! Não lucrava nada! Chamavam-lhe filósofo... Areias, queriam dizer. Importava-se lá. E caía, o algodão em rama! Caía, sim senhor! Bonito! Felizmente que a Senhora dos Prazeres ficava perto. Se a brincadeira continuasse, olha, dormia no cabido! O que é, sendo assim, adeus noite de Natal em Lourosa... Apressou mais o passo, fez ouvidos de mercador à fadiga, e foi rompendo a chuva de pétalas. Rico panorama! Com patorras de elefante e branco como um moleiro, ao cabo de meia hora de caminho chegou ao adro da ermida. À volta não se enxergava um palmo sequer de chão descoberto. Caiados, os penedos lembravam penitentes. Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiu-se, e só então reparou que a porta da capela estava apenas encostada. Ou fora esquecimento, ou alguma alma pecadora forçara a fechadura. Vá lá! Do mal, o menos. Em caso de necessidade, podia entrar e abrigar-se dentro. Assunto a resolver na ocasião devida... Para já, a fogueira que ia fazer tinha de ser cá fora. O diabo era arranjar lenha. Saiu, apanhou um braçado de urgueiras, voltou, e tentou acendê-las. Mas estavam verdes e húmidas, e o lume, depois de um clarão animador, apagou-se. Recomeçou três vezes, e três vezes o mesmo insucesso. Mau! Gastar os fósforos todos é que não. Num começo de angústia, porque o ar da montanha tolhia e começava a escurecer, lembrou-se de ir à sacristia ver se encontrava um bocado de papel. Descobriu, realmente, um jornal a forrar um gavetão, e já mais sossegado, e também agradecido ao céu por aquela ajuda, olhou o altar. Quase invisível na penumbra, com o divino filho ao colo, a Mãe de Deus parecia sorrir-lhe. Boas festas! — desejou-lhe então, a sorrir também. Contente daquela palavra que lhe saíra da boca sem saber como, voltou-se e deu com o andor da procissão arrumado a um canto. E teve outra ideia. Era um abuso, evidentemente, mas paciência. Lá morrer de frio, isso vírgula! Ia escavacar o arcanho. Olarila! Na altura da romaria que arranjassem um novo. Daí a pouco, envolvido pela negrura da noite, o coberto, não desfazendo, desafiava qualquer lareira afortunada. A madeira seca do palanquim ardia que regalava; só de cheirar o naco de presunto que recebera em Carvas crescia água na boca; que mais faltava? Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra e sentou-se. Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência, ergueu-se e chegou-se à entrada da capela. O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a casa toda. É servida? A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino também. E o Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira. — Consoamos aqui os três — disse, com a pureza e a ironia de um patriarca. — A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José. Miguel Torga |