quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Necrópole medieval descoberta em Tomar pode ser a maior da Europa

Posted: 03 Feb 2009 08:33 AM PST

As escavações que decorrem junto à Igreja de Santa Maria do Olival, em Tomar, deram a conhecer aquela que pode ser a maior necrópole da Europa, em número de enterramentos (3.400) e em área, disseram os arqueólogos que acompanham a obra.

Arlete Castanheira, responsável da Geoarque Lda., empresa contratada pelo consórcio MRG Lena/Abrantina, que ganhou a empreitada da construção da ponte do Flecheiro e arranjo da zona envolvente, um dos projectos inseridos no programa Polis de Tomar, disse à Lusa que, apesar de saberem, desde o início, que existia uma necrópole no local, ninguém “previa que fosse desta dimensão”.

Desde o início dos trabalhos, em Novembro de 2007, foram encontrados cerca de 3.400 enterramentos, sendo que 40 por cento das sepulturas têm ainda ossários associados, afirmou à Lusa Elizabete Pereira, directora da escavação.

Pelo espólio encontrado junto às sepulturas (moedas, cerâmica, alfinetes para atar as mortalhas, pregos, contas, terços e alguns brincos e anéis), pensa estar-se perante uma necrópole moderna, com enterramentos feitos entre os séculos XIII e XVI, disse a arqueóloga, sublinhando que esta é uma escavação “com grande complexidade”, uma vez que vários enterramentos aparecem sobrepostos.

“Trata-se da maior necrópole da Europa em número de indivíduos e em área”, disse Arlete Castanheira, adiantando que as duas fases da escavação abrangem uma área total de 6.500 metros quadrados.

Todo o espólio osteológico recolhido está a ser encaminhado para a Universidade de Évora, que reúne condições para o manter em reserva, estando o espólio material à guarda do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), adiantou.

A fase actual da escavação está a atingir um nível de vestígios romanos, tendo sido encontrada cerâmica fina e vidro, bem como algumas estruturas de divisões de pouca dimensão e fornos que poderiam destinar-se à cozedura da cerâmica, disse Elizabete Pereira. “Dá para saber que a área foi usada no período romano e depois como necrópole na Idade Média”, disse.

Nas proximidades da igreja foram encontradas várias sepulturas estruturadas, que não foi possível associar a um estatuto social pois não apareceu espólio que sustente essa hipótese, afirmou Sérgio Pereira, também director de escavação.

Além dos relatórios mensais que vão dando conta do desenrolar dos trabalhos, a equipa de arqueólogos no terreno produzirá, quando terminar a intervenção, prevista para o final de Fevereiro, um relatório final, científico, já com o estudo dos materiais encontrados.

O presidente da Câmara Municipal de Tomar, Corvêlo de Sousa, disse à Lusa que a autarquia está a estudar a possibilidade de publicar os resultados finais da escavação no seu boletim municipal, bem como a realização de conferências e de uma exposição temporária com o espólio do material encontrado e as duas sepulturas estruturadas removidas, já com o objectivo de virem a ser expostas noutro local.

Corvêlo de Sousa referiu ainda que a possibilidade da musealização in situ de alguns dos achados, em particular de um conjunto de sepulturas estruturadas, não recebeu parecer favorável do IGESPAR, pelo que, eventualmente, será colocado no local um painel com informação sobre os trabalhos realizados.

Supõe-se que a actual igreja de Santa Maria do Olival remonte a meados do século XIII, tendo sido edificada no local onde teria existido um convento beneditino, mandado construir por São Frutuoso, arcebispo de Braga, no século VII.

O templo serviu de panteão à maior parte dos mestres templários e aos primeiros da Ordem de Cristo, dependendo, no tempo dos Templários, directamente da Santa Sé, não integrando por isso nenhuma diocese. Por bula papal de 1455 foi matriz de todas as igrejas dos territórios descobertos.

(Público / Lusa)

in in http://tomar-actual.net/

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