quarta-feira, 11 de março de 2009

Cesário Verde (1855-1886)

José Joaquim Cesário Verde

(Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um poeta português .

Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, frequentando por apenas alguns meses o curso de Letras. Ali conheceu Silva Pinto, grande amigo pelo resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais) e as actividades de comerciante, herdadas do pai.

Em 1877 lhe começou a dar sinais a tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes servem de inspiração a um de seus principais poemas, Nós (1884).

Tenta curar-se da tuberculose, sem sucesso; vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde (disponível ao público em 1901), compilação de sua poesia.

De poesia delicada, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, seus cenários predilectos. Evitou o lirismo tradicional, expressando da forma mais natural possível.

(...)

A poética de Cesário e as escolas literárias

Podemos afirmar a sua aproximação a várias estéticas. Assim, se se tiver em conta o interesse pela captação do real, pelas cenas de exterior, por quadros e figuras citadinos, concretos, plásticos e coloridos, é fácil detectar aqui a afinidade ao Realismo. A ligação aos ideais do Naturalismo verifica-se na medida em que o meio surge determinante dos comportamentos. Pela objectividade dos temas, baseados na Natureza e no quotidiano, assim como pelas formas exactas e correctas, podemos ver afinidades com o Parnasianismo. Note-se a objectividade defendida por esta escola e pelo autor, mas a subjectividade presente nas suas composições (o poeta que sofre, que revela sentimentos e sensações – “Despertam-me um desejo absurdo de sofrer”, “o gás extravasado enjoa-me, perturba”), o que constitui um desvio em relação à escola parnasiana. Por último, aproxima-se dos impressionistas que captam a realidade mas que a retratam já filtrada pelas percepções.

A mulher angélica: Pertencente à cidade, a mulher angélica encarna todas as qualidades do campo. O campo, na poesia de Cesário Verde, aparece como símbolo de vitalidade, trabalho, saúde, liberdade, vida. Sendo que a mulher do campo representa a pureza e a naturalidade, é uma mulher frágil, terna, ingénua e despretensiosa. Por exemplo no poema "A Débil", aparece-nos uma mulher com estas características que acima referi só que, habitando na cidade.

in http://pt.wikipedia.org/wiki/Ces%C3%A1rio_Verde

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DESLUMBRAMENTOS


Milady, é perigoso contemplá-la,
Quando passa aromática e normal,
Com seu tipo tão nobre e tão de sala,
Com seus gestos de neve e de metal.

Sem que nisso a desgoste ou desenfade,
Quantas vezes, seguindo-lhe as passadas,
Eu vejo-a, com real solenidade,
Ir impondo toilettes complicadas!...

Em si tudo me atrai como um tesouro:
O seu ar pensativo e senhoril,
A sua voz que tem um timbre de ouro
E o seu nevado e lúcido perfil!

Ah! Como me estonteia e me fascina...
E é, na graça distinta do seu porte,
Como a Moda supérflua e feminina,
E tão alta e serena como a Morte!...

Eu ontem encontrei-a, quando vinha,
Britânica, e fazendo-me assombrar;
Grande dama fatal, sempre sozinha,
E com firmeza e música no andar!

O seu olhar possui, num jogo ardente,
Um arcanjo e um demónio a iluminá-lo;
Como um florete, fere agudamente,
E afaga como o pêlo dum regalo!

Pois bem. Conserve o gelo por esposo,
E mostre, se eu beijar-lhe as brancas mãos,
O modo diplomático e orgulhoso
Que Ana de Áustria mostrava aos cortesãos.

E enfim prossiga altiva como a Fama,
Sem sorrisos, dramática, cortante;
Que eu procuro fundir na minha chama
Seu ermo coração, como um brilhante.

Mas cuidado, mi1ady, não se afoite,
Que hão de acabar os bárbaros reais;
E os povos humilhados, pela noite,
Para a vingança aguçam os punhais.

E um dia, ó flor do Luxo, nas estradas,
Sob o cetim do Azul e as andorinhas,
Eu hei-de ver errar, alucinadas,
E arrastando farrapos - as rainhas!


in http://www.bibvirt.futuro.usp.br/content/view/full/15999

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