quarta-feira, 25 de março de 2009

Solidariedade

Imediatamente a seguir ao 25 de Abril, Toda a gente sentía que era necessária para qualquer coisa, pudera, havia tanto para fazer neste cantinho á beira mar. E na minha empresa não faltavam as boas vontades. De todo o lado surgiam ideias. Na minha área, aconteceu a oportunidade de fazer serviço para Argel. Na altura, este país tinha ligação ao bloco de Leste. Ficámos todos com vontade de conhecer um pouco o país que, no grupo francófono, era o "enfant terrible". De tal modo foi o entusiasmo geral que, desde a chefia até ao mais simples elemento de cada equipa, ninguem se lembrou das ajudas de custo. No aeroporto de Argel, a sala de embarque/desembarque que tinha telhado de zinco, parecía um forno. Como tambem ninguem se lembrou dos visas de entrada, ficámos umas 4 horas a ambientar ao sistema socialista vigente.
Éramos olhados com desconfiança pelos funcionários da alfândega, o que nos provocava algum riso mal disfarçado e insegurança. Afnal, que tinham estes tipos que vir ali fazer? Bem dizíamos que foramos contratados para fazer vôos entre Paris e Argel por ser Ramadão. Isto meteu embaixada e tudo, e nós a ficar com fome.
Quando nos permitiram sair, andámos num autocarro (éramos uns 30) a percorrer vários hoteis que não davam alojamento sem primeiro verem o dinheiro. O regime local ainda não conhecía uma carta de crédito, feita nos moldes europeus. E nós, cansados, suados, sem um quarto de hotel, só sabíamos que algumas horas depois já devíamos fazer o 1º vôo. No hotel novíssimo já não havía água corrente e foi na piscina que nos safámos. Quanto a comer, como não tinhamos "dinars" que só podiam ser adquiridos no país (se tivessemos francos, claro),aguentámos como pudemos até chegarmos ao nosso querido 747, onde havía comidinha com fartura. Foi giro, visitei uma mesquita com desconfiança, porque deixei á porta um par de "mocassins" que podiam ser trocados, por engano, por um par de chinelos horríveis. Fui á "Casbah" donde saí pior do que entrei, enfim, o meu querido comandante Ferreirinha já não sabía o que nos havia de contar porque Lisboa não mandava dinheiro e Paris dizía que não era nada com eles. Valeu isso sim a SOLIDARIEDADE de alguns colegas que abdicaram de alguns francos para matar a fome aos amigos. O Ferrerinha passava o termpo refugiado no quarto para não nos ouvir mais.

Sem comentários: